sábado, 26 de fevereiro de 2011
Desencontros
Estou à minha margem mais uma vez, já não me basto no corpo que me limita, e tenho do pouco que me sobra, desse rio ignorante, o arremedo frágil soluçando quase sem ar, ranhuras apenas de vida. Ah doce sensação de estar à margem, me rasgue por inteiro, não tenha medo, eu quero ver meu corpo dilacerado pela chuva, quero estar no chão, enraizado na terra, eu quero reconhecer minha casa na ferida aberta pelo calor do sol, quero reconhecer minha alma nos meus restos mortais depois da tempestade, e que os dias passem, e me assole o gemido sincero das palavras, o frio da distância, a dor da perda, o dissabor do não dito sem receios. Que os dias passem, e me atravesse por completo a vida daqueles que não têm medo de viver da terra, dos que arrancam com as próprias mãos o sustento da alma, daqueles que cegados pelo céu, apostam sua riqueza nos grãos de areia, nas palavras simples, no toque das mãos, que me atravesse a vida dos que ainda vivem. Estou à margem de mim mesmo, me busco desesperadamente e não encontro senão o meu revés desajeitado.
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