domingo, 22 de fevereiro de 2015

A pura vertigem

Não quero nada mais, abrir a janela é já um esforço descomunal. Que dizer sair andando por aí, mover os lábios, respirar ar puro, me aventurar na luz do sol. Não quero nada! Apenas afogar-me no tempo, em devaneios, sentir nada além da vertigem, do vazio, da eterna espera. Sei que chegará o dia do sossego, mas agora, neste estalo de tempo, quero viver tudo num dia só, quero viver tudo em avalanches, em tormentas, em desmoronamentos. Que seja tudo vertiginoso, que seja uma queda livre sem precedentes! Que a gravidade me arremesse de vez neste chão chamuscado, espinhento e duro como a vertigem que me toma a cabeça. Que a loucura seja inevitável, que seja completa, onipresente, chega de rodeios, nada de questionamentos, faça sua parte e não se demore! O esforço já não me é permitido. Entrego sem cautela minha sanidade, e faça dela o que bem entender, mas que seja a pura vertigem, que seja a morte anímica do meu ser.