quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Voar sem asas

Nesses dias, vieram como ferro, cortando sem descanço o frio largo da minha pele apodrecida.
Já estava morta qualquer coisa entre nós, mesmo assim, vieram.
Veio a sua voz surda trazer-me o descaso, veio, sem trégua alguma, trazer-me a desesperança.
Vieram suas palavras inventadas dizer-me nada e coisa nenhuma.
Veio o seu silêncio tirar-me do sério, arrancar-me a cabeça, explodir-me o coração.
Veio o seu corpo sem jeito atolar-me inteiro na lama, sorrir-me um sorriso absurdo, sem gozo.
Veio você sem vir, me enlouquecendo à distância, me enchendo de sal.
Estou pesado como a lua!
Padeço da inútil vantagem de voar sem asas.
E ainda insisto em cair.

3 comentários:

Amora disse...

desafiando a gravidade às avessas...
E vc escreve cada vez melhor! Adorei!

Zoi di Gato disse...

Caro,
Desiste não. Uma hora tua voa sem cair ou cai sem voar, mas é aí que estáa parada. Mas todos tem seus dias de São Jorge...

Anônimo disse...

"atirar-se de cabeça no precipicio" é precedente a Romeu e Julieta. Romantismo de livro velho.