segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Meu único modo

Trinta minutos e seis meses durou aquela viagem. Era o meu único modo de lidar com as coisas, pensar na espera, no caminho, alongar a estrada ao infinito, imaginar uma vida para cada pequeno e invisível pedaço de terra que íamos percorrendo, eu sozinho como sempre, fugindo da presença morta que me distraía, de qualquer sussurro que encurtasse aquela vida criada, aquela viagem lenta de meses recordados entre passar de árvores e cercas, seguia querendo não chegar, atrasar um pouco mais, desconstruir intensamente a chegada, o sentido incompreensível daquele caminhar. Eu, buscava ali, no ir-se escapando do asfalto e dos detalhes passados que deixava, o seu rosto reconstruido no rosto de outras, nos grãos de terra, nos trinta minutos já vividos há tempos, na ilusória espera da sua indiferença irremediável.