É no instante que você mais precisa, no vazio, no sopro frio da
vida, no momento interminável da espera, é aí que você perde tudo, que tudo
acaba, que tudo se esvai. Não sobra uma gota de alento, a esperança cambaleia, e
a menor das frustrações é como perder um mundo! Que me resta senão minha
própria e ridícula ironia julgando sem remorso a agonia lenta de meus dias? Faço tempestades, crio dramas e me tranco em silêncio prolixo no fundo de meus
pensamentos já não tão puros. O perigo da casualidade se expõe, tudo
fica mais difícil, sorrir é algo raro e pedir socorro é traçar o próprio
destino mórbido, cavar o chão e deitar-se na cova exposta. O mundo não
suporta o torto, o mundo não suporta, não aceita esse instante sem ar, esse instante transviado. É preciso fingir, fingir e calar, fingir e esperar, até que o perigo
passe ou te domine por completo.