quarta-feira, 7 de maio de 2008

Esquiva

Muito tempo passei com meu egoismo, te apagando, te esquivando, desmisturando o mundo. Respirava do seu rastro o pó acido da desesperança, do esquecimento. Queria matar algo em mim, algo alheio, incrustado minusiosamente em minha pele e em meu cheiro saturado, tao ligado a meu ser, tao pertencente a mim, que mata-lo seria um suicidio consciente. Mas era preciso morrer uma morte rapida, era preferivel cometer um crime insano que seguir privando-me de ar, seguir afundado na poeira de seus pés caminhando. Nao pude, nao tive maos fortes, a corda atada a mim nao foi o bastante, nao pude cortar-me em pedaços, nao fui capaz de saltar do decimo andar, rasgar-me as entranhas, destroçar-me. Matei-me pouco, superficialmente. Moribundo e mais ameno, vi meu absurdo egoismo, meu destino guiado por olhos torpes e sujos de seu suor, de meu fracasso, nao pude morrer nem matar-te. Voce segue viva sem mim, sem meu sopro. Te dei as costas covarde, para que rasgasse com as unhas meu corpo ao contrario, voce nao conseguiu, tampouco soube o que fazer naquele momento. Era preciso um ranger de dentes, ou uma troca de olhares. Nada. Nao houve nada entre nós. Nao temos lugar, nao temos mais historia, nao temos prazer em meu egoismo. Era preciso matar-me.

Um comentário:

Fabrissa Valverde disse...

Adorei isso: "desmisturando o mundo".

Dá vertigem...