domingo, 24 de janeiro de 2010
Ainda não
Estranha condição a do extrangeiro, uma vez de volta, distante sempre do eterno retorno, em busca da sua terra, perde a sua gente, o seu ser duplicado na vida de tantos outros mutantes, ele proprio vai se desvanecendo em quem nunca foi, seguro de estar onde sempre esteve, longe do que, talvez, um dia quis ser. Estranha condição a do extrangeiro, tentando sem confiança, falar o seu já datado idioma, confundido entre sims e nãos que supõe entender, uma vez entendido, uma outra vez dito com tanta clareza, que nessa condição, quem sabe humana, da realidade palpável e não ilusória das coisas, ele tambaleia, calado, tímido, porém curioso, entre o não ser errante, morador do mundo, e o ser arraigado de tantas raizes aprendidas, colhidas no chão, arrancadas da terra pisada. Estranha condição a minha, estranhando o já visto, vendo o tempo, impossível, agarrar-me pelas costas e fazer-me proprietário e senhor do devenir, está em minhas mãos a moldura do meu pedaço de tempo. Estranha, louca e excitante condição a da minha volta, ainda sem lugar, mas dono do tempo, vou pisando raízes e brincando de não ter lar.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
A minha nossa violência de muitos dias
Tenho tantas dúvidas nas mãos e fecho os punhos num soco violento. Sem defesas, vou de encontro a sua cara, abaixe a defesa, não sou mais que um filho, abaixe logo a defesa, renda-se, deixe a minha mão varar em sangue a sua vida, uma marca mais, mais justa, mais minha. Essa é a violência que eu quero, que você não pode suportar, então renda-se, não suporte, me olhe aqui no chão e abaixe a defesa. Quem te fez senhor absoluto de todas as minhas coisas? O mesmo punho fechado, as mesmas dúvidas de agora, as minhas mesmas mãos que eu lanço enfim contra você, me sangraram me cortaram me arrebentaram contra a parede e não tem mais volta, volta agora o meu punho, pra desfechar de uma vez essa violência minha e sua trancada aqui no meu peito. Abaixe a defesa, sujeite-se, não interfira, dê logo a cara, renda-se.
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